Empresa de Natal (RN) cobrava taxas e doação de alimentos para que jovens se tornassem modelos ou atoresCerca de 350 pessoas, a maioria jovens e adolescentes, de duas cidades do litoral Leste do Ceará foram enganadas por uma quadrilha que prometia empregos como modelos e até atores e atrizes de televisão. A falcatrua foi descoberta depois que as pessoas lesadas procuraram a Polícia depois de pagar aos suspeitos diversas taxas para que participassem de cursos, fossem grafadas e filmadas.
A dona de casa Francisca Maria das Chagas é uma das vítimas. Ela explica ter feito o pagamento de R$ 340,00, mas percebeu que tinha sido lesada e fez um B.O. "Teve muita divulgação, a gente acreditou, mas me sinto enganada" fotos: Mara rodriguesO golpe aconteceu nas cidades de Aracati e Beberibe, onde, no fim de semana, a Polícia Civil prendeu oito pessoas, todas elas acusadas de aplicar o golpe contra as vítimas. Os nomes dos suspeitos não foram divulgados pelas autoridades, mas, segundo a própria Polícia, entre os membros do bando estão fotógrafos, cinegrafistas, consultores de imagens e os donos de uma empresa denominada ´Models Magazine Limitada´, sediada em Natal, no Rio Grande do Norte.
O dono da empresa, identificado como Tell Marcus de Sousa Moitas, está entre os oito detidos. Todos deverão, agora, responder pelo crime de estelionato. "Constatamos a existência de vários Boletins de Ocorrência (B.O.) na delegacia do Município de Beberibe, de pais que pagaram até R$ 720,00 para que seus filhos se tornassem modelos, e que acabaram percebendo que foram lesados", explicou a delegada de Polícia Civil de Aracati, Eliane Soares. Os candidatos a modelos fotográficos e a atores ou atrizes teriam feito a inscrição pagando taxas com valores diferentes, mas em média de R$ 720,00, além de ter que também doar alimentos.
Várias pessoas compareceram, ontem, à Delegacia Regional de Polícia Civil de Aracati com fichas, cadastros e comprovantes do pagamento de taxas cobradas pela empresa "Models Magazine´. A Polícia instaurou inquérito e prendeu os acusadosDe acordo com a delegada Eliane Soares, na noite de sábado último, seu colega João Eudes Félix, delegado de plantão em Aracati, se dirigiu ao ginásio do Colégio Marista daquela cidade, onde estava sendo realizada a seleção de candidatos, e prendeu os oito implicados. Além disso, foram apreendidas câmeras fotográficas, notebooks e uma leitora de cartão de crédito.
AgendamentoConforme Eliane Soares, o grupo revelou ter feito 150 seleções, mas cerca de 350 pessoas estavam no ginásio do Colégio Marista. Cada participante entregou ao grupo dois quilos de alimentos não perecíveis e pagou uma taxa de R$ 40,00. Caso fossem aprovados poderiam optar por um "agendamento básico pagando mais R$ 300,00, ou um agendamento completo, com imagens no valor de R$ 720,00. Egídio Barreto, advogado da empresa negou que houve ocorrido um golpe contra as pessoas das duas cidades. "É uma empresa registrada e que oferece serviços de foto e vídeo, não há nenhuma relação com estelionato, mas, como houve uma quebra de confiança, os proprietários vão devolver todo o dinheiro aos candidatos", argumentou.
O advogado Egídio Barreto, representante jurídico da empresa suspeita, negou ter ocorrido um crime de estelionato. "O dinheiro vai ser devolvido", afirmouCrimeMas, para a Polícia, o crime existiu sim. Ela explicou que no contrato não consta que a pessoa agenciada será logo de cara contratada como modelo, mas os pais dos jovens criaram uma expectativa diante das promessas. "Eles trabalham em cima da fé das pessoas. O flagrante foi registrado e agora cabe à Justiça decidir se os envolvidos vão responder em liberdade ou não", reforçou a delegada.
A dona de casa Francisca Maria das Chagas disse ter pago a quantia de R$ 340,00 e quer o dinheiro de volta. "Teve muita divulgação. A gente acreditou na conversa deles, mas agora me sinto enganada", desabafou.
Dezenas de pessoas foram até as delegacias de Polícia de Aracati e Beberibe registrar queixa sobre o mesmo assunto.
FIQUE POR DENTROEstelionato tem pena de um a 5 anos de prisãoO crime de estelionato está previsto no artigo 171 do Código Penal Brasileiro, que assim caracteriza o delito, "obter para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento". O mesmo artigo dispõe de dois parágrafos e seis incisos que falam de diversas situações adversas às vítimas, como golpe através de coisa alheia em garantia, pagamento em ou garantia coisa alienável, emissão de cheques sem fundos e outras circunstâncias. A pena prevista pelo Código neste tipo de delito pode variar de um a cinco anos de prisão, além do pagamento de multa. Com pena muito baixa, os estelionatários são reincidentes por excelência. A maioria é tem ficha criminal da Polícia e muitos processos na Justiça brasileira.
FERNANDO RIBEIRO/MAR RODRIGUESEDITOR/ESPECIAL PARA POLÍCIA