Segunda-feira, 11 de Setembro de 2017
PRESSÃO DE
BANCOS POR LUCROS PREJUDICA CONSUMIDORES E BANCÁRIOS
Muita
gente já encontrou no extrato bancário o débito relativo a um serviço que não
contratou. Ou a cobrança por um novo pacote de produtos pelo qual jamais
procurou, ou um cartão plus que sequer pensou em pedir. Além do desconto
indevido em conta corrente, há a chateação de ficar um tempão pendurado no
serviço de atendimento telefônico, ou mesmo no chat, sem que haja garantia da
solução do problema. Em muitos casos, acaba sendo necessário ir pessoalmente à
agência, onde se vai perder mais um tempo e passar raiva na fila.
Os
que conferem seus extratos e reclamam têm o ressarcimento. Já os que não têm
esse hábito saudável do ponto de vista financeiro acabam por pagar taxas que
vão engordar os lucros dos banqueiros. Pouca gente sabe, mas todo esse
aborrecimento significa que o cliente – assim como o bancário – está pagando o
'pato' pelas pressões impostas pelos banqueiros e seus executivos para aumentar
ainda mais sua lucratividade.
Essas
pressões, além do aumento do controle sobre o trabalhador, são algumas das
ferramentas inseridas em um modelo de gestão baseado na redução de custos,
inclusive de recursos humanos, no qual a terceirização tem fundamental
importância.
Se
os clientes pagam com toda essa chateação ou prejuízo ao bolso, os
trabalhadores das instituições bancárias muitas vezes são obrigados a comprar
eles próprios produtos de que não necessitam. Ou recorrem à solidariedade de
familiares e amigos, que colaboram comprando também para que a meta seja
atingida.
Sob
tanto controle, pressão e metas, o bancário paga com a saúde, fragilizada por
um ambiente nocivo, altamente competitivo e que leva ao adoecimento,
especialmente psíquico. De acordo com o Ministério da Saúde, em 2015 os casos
de depressão superaram os de lesões por esforço repetitivo (LER). Isso quando
não com a demissão por não ter chegado perto de atingir as metas cada vez mais
abusivas.
“Funcionários de todos os
setores, em todos os bancos, são submetidos a esse modelo de gestão dos bancos
que os levam a cometer esses desvios indesejáveis – ou desonestidade, como se
diz entre os bancários suíços e alemães. São transgressões cometidas em função
da sobrevivência na corporação, ou seja, de continuar empregado”, explica a professora e pesquisadora da
Faculdade 28 de Agosto Ana Tercia Sanches.
Na
segunda-feira (4), ela lançou o livro Trabalho Bancário – Inovações
Tecnológicas, Intensificação e Gestão por Resultados (Editora Anna Blume),
fruto da sua pesquisa para doutorado, defendido em agosto do ano passado, na
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.
Perdas
Ana
Tercia analisou as mudanças na gestão dos bancos a partir de 1990, feitas para
elevar os lucros, e chegou à conclusão de que, para aumentar a já alta
lucratividade, os bancos passaram a intensificar a pressão por resultados. Os
patrões, que passaram a ter lucros astronômicos e os altos executivos, com seus
bônus milionários, criaram programas de metas de curto prazo, e deixaram de
lado a valorização da carreira.
Os
bancários passaram a trabalhar mais, fazendo muito mais atividades simultâneas,
mas não foram os únicos prejudicados. Dados do Sindicato dos Bancários de São
Paulo, Osasco e Região mostram que mais de 60% da categoria trabalha em média 8
horas por dia, bem além das 6 horas diárias estabelecidas em convenção. As
inovações tecnológicas, que deveriam contribuir para a redução da jornada de
trabalho e para mais contratações, melhorando a qualidade de vida de todos,
afetaram os clientes.
Ao
ter de atender mais gente, ao mesmo tempo, por meio das diversas ferramentas de
comunicação via internet, além do telefone e do celular, que ainda são muito
usados, caiu a qualidade do atendimento. "O desenvolvimento tecnológico,
que por um lado beneficia clientes que podem pagar contas e fazer operações
pelo próprio celular, prejudica pessoas que não dominam essas ferramentas ou
mesmo que preferem o atendimento presencial, na agência", destaca Ana
Tercia.
Ela
lembra ainda do aumento no número de agências virtuais. "A tendência é que
o fim do trabalho presencial seja seguido de um atendimento remoto com o
desaparecimento progressivo da participação humana. Ou seja, cada vez mais, por
meio da inteligência artificial, as relações entre o cliente e o banco serão
intermediadas por robôs."
Para
a professora, outra perversidade da lógica é incorporar a pressão como elemento
banal da rotina do bancário, a ponto de incluir no perfil desejado de seus
candidatos a uma vaga a "resistência a pressões". "Por conta
dessa engrenagem, o processo de trabalho conforme estruturado é altamente
controlado, embrutece as relações entre os colegas e com o público e enfraquece
o trabalho em equipe, tendo impacto negativo na saúde e na qualidade de
vida", destaca.
Última
atualização: 11/09/2017 às 10:33:18
Fonte
da Informação Site do SINDICATO DOS BANCÁRIOS DO CEARÁ