O
LUGAR DE RANDOLFE
por
Juliano Medeiros
Foto: Fabio Gonçalves / Agência O Dia |
O 4º Congresso Nacional do PSOL
aprovou, a pré-candidatura do senador Randolfe Rodrigues à Presidência da
República nas eleições do próximo ano. É a primeira candidatura potencialmente
competitiva lançada pela oposição de esquerda para a disputa de 2014. Quais os
desafios de um projeto popular e socialista no próximo ano?
As últimas três eleições
presidenciais foram marcadas pela polarização entre dois blocos, um liderado
pelo PT, outro pelo PSDB. Essa polarização, falsa em sua essência, foi
instrumental para a estabilização da hegemonia conservadora na política e na
sociedade brasileira. Isso não significa, porém, que estes blocos representem
exatamente o mesmo projeto. As elites brasileiras não são homogêneas e
dividem-se em distintas frações. Essas frações influenciam o processo
político-eleitoral de acordo com seus interesses particulares, como demonstra o
financiamento das campanhas de Dilma Rousseff (financiada principalmente por
empreiteiras e pelo agronegócio) e José Serra (financiado principalmente por
bancos e setores da indústria). São essas divisões que permitem o surgimento de
alternativas de dentro do bloco conservador, como Eduardo Campos.
No cenário que se apresenta pouco
menos de um ano das eleições de 2014, existem três candidaturas principais:
Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB). Aos dois
primeiros, interessa reproduzir a polarização das eleições anteriores, enquanto
Campos tenta conquistar a confiança da indústria e do agronegócio, enfraquecendo
as bases de apoio de ambos. Portanto, a novidade nas eleições de 2014 não vem
do campo conservador: a novidade vem das ruas.
O ano de 2013 foi marcado por três
fatos decisivos para o desdobramento da disputa presidencial do próximo ano. O
primeiro foi a retomada de medidas privatistas e dos ajustes econômicos em
favor do capital financeiro. Além de aeroportos, portos e ferrovias, o governo
Dilma iniciou a entrega do petróleo do Pré-Sal à exploração privada, diminuindo
ainda mais a participação do Estado em setores estratégicos da economia. Ao
mesmo tempo, após seis aumentos consecutivos, a taxa de juros de 10% ao ano
colocou o Brasil novamente na condição de paraíso mundial da especulação
financeira. Com isso, os juros do crédito devem aumentar, endividando ainda
mais as famílias brasileiras e contingenciando os indispensáveis investimentos
públicos.
O segundo fato decisivo na disputa
eleitoral do ano que vem é o efeito das chamadas "jornadas de junho".
As manifestações que tomaram as ruas em todo o país colocaram o sistema
político-eleitoral em xeque. A queda da popularidade de todos os governantes –
incluindo Dilma Rousseff – é um dado inquestionável que demonstra que os
eleitores estarão mais atentos, mais vigilantes e mais críticos durante as
eleições de 2014. Assim, haverá um maior espaço para propostas alternativas e
de esquerda, que distanciem-se da plataforma das elites e busquem representar o
descontentamento das ruas.
O terceiro fato com implicações
diretas sobre as eleições presidenciais do próximo ano foi a filiação de Marina
Silva ao PSB para concorrer à vice-presidência na chapa de Eduardo Campos. Até
a frustrada tentativa de criação de seu partido, a Rede Sustentabilidade,
Marina era a figura pública que mais havia capitalizado o descontentamento
popular contra a velha política, apesar de ter participado, até pouco tempo, da
governabilidade de Lula e de não apresentar, efetivamente, nada de
substancialmente novo em relação a questões centrais como a política econômica.
Porém, simbolicamente Marina vinha angariando amplas simpatias dos setores
médios desiludidos com os velhos partidos e cansados da falsa polarização entre
PT e PSDB. Ao ingressar no PSB, um partido igual a todos os demais, Marina
frustrou milhões de simpatizantes e criou um vácuo que pode ser ocupado por um
projeto efetivamente de esquerda.
Estes três fatores, criaram condições
favoráveis a um projeto popular, democrático e socialista para as eleições de
2014, que dialogue com o desejo de mudanças. Um projeto e uma candidatura que
denunciem a paralisia da reforma agrária e busque o diálogo com o MST na
perspectiva da construção de um projeto para o campo que tenha como centro a
pequena agricultura e a soberania alimentar. Um projeto que se oponha ao modelo
macroeconômico baseado no tripé de juros altos, superávit primário e câmbio
flutuante, e apresente um modelo de desenvolvimento baseado no consumo e na
indústria nacionais, com distribuição de renda e justiça fiscal e tributária.
Um projeto que defenda a ampliação radical dos investimentos em saúde e
educação, e retome o sonho de um Brasil livre do analfabetismo. Um projeto
democrático, vinculado às demandas populares e à participação da sociedade
brasileira para enfrentar temas como a democratização da comunicação, os direitos
indígenas e quilombolas, os diretos das mulheres sobre seu corpo e o direito
dos indivíduos de amarem livremente. Um projeto que defenda o meio-ambiente da
sanha destrutiva dos interesses do mercado e utilize nossas riquezas naturais
de forma equilibrada e a serviço do desenvolvimento com respeito à natureza.
Enfim, um projeto que retome as
reformas estruturais interditadas à força pelas elites brasileiras cinquenta
anos atrás e a utopia de um Brasil mais justo e igualitário.
As três candidaturas representam mais
do mesmo e não podem encarnar o desejo de mudanças e um projeto de conteúdo
efetivamente transformador. A esquerda socialista, no 4º Congresso Nacional do
PSOL, tem agora uma candidatura com esse perfil.
Randolfe Rodrigues, o PSOL e os
demais partidos da esquerda socialista e independente, são os únicos que podem
apresentar este projeto. Este é o lugar de Randolfe e do PSOL: o lugar da
mudança pela esquerda e da retomada da utopia socialista.
Fonte da Informação http://www.psol50.org.br/site/artigos-e-entrevistas/597/o-lugar-de-randolfe
Publicado no dia 03/12/2013
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