
Única
mulher que participará de uma disputa que, até a manhã de hoje, estava
hegemonizada por homens, Soraya afirmou que seu papel é o de ressaltar o
enfrentamento às dificuldades da participação da mulher na política: “Vamos
dialogar com o movimento feminista e com toda esta cidade, que é uma das que registram
maior número de violência contra as mulheres. É, preciso, mais do que nunca,
pronunciar o papel das mulheres, o que faremos também através das diversas
candidatas a vereadora, como Toinha Rocha, Marilene Torres, Nascélia Silva, que
são militantes que atuam nos movimentos sociais, nos sindicatos, etc.”.
Criticando
a construção artificial das candidaturas palacianas, Roseno lembrou que a chuva
de ontem fez aparecer o que máquina publicitária nenhuma pode esconder: “Hoje
nós vivemos em um ambiente insalubre, sem qualquer forma de participação das
maiorias sociais na ocupação do território. Uma gestão nossa é uma gestão de
inversão de prioridade. E nós sabemos que isso é possível, porque nós vemos a
criação do novo se expressando a cada esquina. Por isso, apostamos na
radicalidade democrática. Hoje a cidade cresce a partir dos interesses da
especulação imobiliária. É preciso mudar essa lógica, produzir um planejamento
de longo prazo para Fortaleza”.
Por
isso, “mais que uma convenção para sagrar nomes, é necessário que aqui pulsemos
vida. Este é um momento cheio de oportunidades e de desafios. Na primavera
árabe, na Espanha, em diversos lugares do mundo as pessoas estão inundando as
ruas para enfrentar o conservadorismo e a violência. Aqui em Fortaleza, a
história já demonstrou que, em momentos mais tensos e piores, foi possível
mudar. É nessa possibilidade que acreditamos.”, destacou o candidato do PSOL à
Prefeitura Municipal de Fortaleza.
Soraya
falou também da necessidade de renovar a forma de fazer política. “A Fortaleza
que nos move deve ser apresentada desde agora, por isso negamos o financiamento
privado de campanhas, porque isso capturou a política e privatizou o estado.
Nos movem não as instituições, mas a sociedade, as pessoas que não se conformam
com o Acquário ou com as remoções por causa da Copa.”. Nesse sentido, foi
apontado que esta campanha terá o desafio de combater o uso da máquina pública,
romper com a indiferença e chamar as pessoas para que elas tomem as
candidaturas em suas mãos. “Só assim nós vamos colocar os de baixo no segundo
turno!”, finalizou.
PROGRAMA
Durante
a convenção, Roseno apresentou as seis dimensões que orientam o programa de
governança que será apresentado pelo PSOL e pelo PCB à cidade de Fortaleza:
Território
– “O território é o nosso lugar de relações primeiras: a rua, o beco, a viela,
a comunidade, a casa. A cidade deveria ser a nossa casa, mas a cidade do
capital quer que a cidade seja uma mercadoria e, lamentavelmente, essa gestão
está submetida à lógica da cidade. Nós queremos falar das relações que cortam o
território, como a mobilidade dos humanos. As pessoas querem e devem ter o
direito de ir e vir.”.
Riqueza
– “A concentração da riqueza salta aos olhos. Estamos em uma cidade que tem que
fazer greves corajosas porque o servente de pedreiro e o motorista não podem
sobreviver com o que ganham. Para nós, a riqueza é o alimento. A cidade que nós
queremos é uma cidade que dispute o sentido da riqueza, que amplie a riqueza
pública, que produza formas alternativas de produzir essa riqueza. Por que a
cidade não pode ter a ousadia de ter um grande programa de agroecologia urbana
para que as comunidades possam produzir parte de seu alimento?”.
Saber
– “O saber que defendemos é o saber que insurge e que liberta. Mas não é
possível pensar a qualidade da escola sem pensarmos a relação que a cidade tem
com o educador e a educadora. Os que estão no poder receberam os educadores a
spray de pimenta e a cassetete. (…) Nós também falamos do saber das comunidades
em luta, produzindo cultura popular. A cidade tem que ser uma escola.”.
Natureza
– “Nossa natureza é a das praças, das áreas verdes. O nosso programa tem que
fazer uma opção entre as áreas verdes e a construção de shoppings. Nós optamos
por ter na cidade uma série de atividades que não destroem o meio ambiente.
Qual é o metro de área verde que os nossos filhos hoje tem para brincar? Qual o
lugar do lazer das crianças? Isso não pode ser natural. Esta é uma cidade que
produz adoecimento físico e mental.”
Poder
– “Hoje, a política é feito a mando e a base de uma enorme máquina fisiologista
e patrimonialista. Nosso grande pacto é com a maioria na cidade. Nós podemos
não ter maioria na câmara, mas nós temos que ter maioria na rua. Tudo o que nós
propomos só será possível se tudo for abraçado e for fruto da íntima relação
que temos que ter com a cidade. Esse é um desafio de milhares. Pensar no poder
é pensar na praça, não é pensar no palácio. Nós não somos rendidos às
institucionalidades convencionais.”.
Bem
viver – “A política para nós não é uma opção, é um imperativo, uma urgência e
uma necessidade. É um exercício de recusar esse mundo como ele é e construirmos
outro, palmo a palmo. Por isso, os que aqui estão estamos a serviço. Nós não
estamos produzindo heróis ou monumentos. A nossa fortaleza vem da nossa
sinceridade.”.
TRAJETÓRIAS
Renato
Roseno é a expressão de diversos coletivos e movimentos sociais que defendem
que a vida esteja acima do lucro. A inquietude e a insurgência marcam a
trajetória do advogado e militante socialista que, desde a adolescência,
escolheu desnaturalizar as diferenças de classe, gênero, etnia ou orientação
sexual; estranhar as desigualdades sociais na cidade; rebelar-se contra toda
injustiça, especialmente contra crianças e adolescentes. Tudo isso junto a
muitos homens e mulheres que escolheram trilhar o mesmo caminho.
Participou
do movimento estudantil universitário e, desde então, tem atuado no campo da
advocacia popular, contribuindo com movimentos por moradia e contra a violência
policial. Foi assessor do então Deputado Estadual João Alfredo por cinco anos;
participou da fundação do Centro de Defesa da Criança e do Adolescente no
Ceará, organização que coordenou por seis anos; foi conselheiro titular do
Conselho Nacional dos Direitos da Criança (CONANDA); coordenou a Associação
Nacional dos Centros de Defesa da Criança e do Adolescente (ANCED) e assessorou
a entidade no monitoramento da Convenção Internacional sobre os Direitos da
Criança.
Aqueles
e aquelas que lutam em defesa dos direitos humanos sabem que Renato Roseno é
uma referência, em todo o Brasil, nessa temática. Seu saber veio da experiência
junto a meninos e meninas das periferias urbanas e dos povos em luta em
diversos países. Sua ação cotidiana reforça nosso aprendizado e compromisso com
a certeza que precisamos de uma revolução nos valores, nas práticas e nas
políticas. Por tudo isso, Roseno apresenta não a carreira convencional dos que
se revezam no poder ou dos que foram construídos pelas máquinas
administrativas, mas a trajetória daqueles e daquelas guiados pelo movimento e
pela certeza de que nada é impossível de mudar.
Soraya
Tupinambá iniciou sua militância há mais de vinte anos, ainda estudante. Desde
então, tem se dedicado à renovação da prática e da reflexão socialista.
Compreende que as lutas contra a exploração da humanidade deve ser acompanhada
do combate à destruição do planeta, pois vivenciamos a crise de um modo de vida
que traz drásticas repercussões ambientais. Como engenheira de pesca e
militante ecossocialista, Soraya participou de organizações políticas e
movimentos sociais que apoiam as lutas, no litoral e no sertão, contra o modelo
predatório que marca o projeto de desenvolvimento aplicado no Ceará.
Todos
que lutam em defesa da água, da terra, pelo respeito às populações tradicionais
e por um Ceará popular, ecológico e socialista reconhecem que Soraya é a
síntese da sabedoria serena e firme da luta de nossos povos. Junto a
pescadores, índios, mulheres trabalhadoras, trabalhadores do sertão e da
cidade, ela proclama um projeto alternativo de economia, agricultura, turismo
de base cultural e ecológica.
Texto:
Helena Martins - http://www.direitoacomunicacao.org.br
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