quarta-feira, 21 de setembro de 2011



O fato de em duas assembleias agitarmos a proposta de recuo da greve para o estado de greve, não quer dizer que concordemos com os companheiros e companheiras que promovem esse movimento de forma precipitada, antecipando-se à assembleia da categoria. Não deixa de ser uma forma desorganizada de retorno, que é justamente o que temos querido evitar. Não nos interessa um recuo a qualquer custo. Temos dito que o fim da greve em sua forma ostensiva, não é o fim da luta. Pensam assim aqueles que resumem seu conceito de luta a esse instrumento fundamental, mas não o único,  de que  os trabalhadores lançam mão para a consecução de seus objetivos.  Por essa perspectiva resvalasse facilmente no sentido do desvio espontaneista da “greve pela greve”. 
Os críticos do sindicato aproveitam esse momento para apontar seus dedos acusadores em nossa direção tentando confirmar a tese segundo a qual o sindicato APEOC, mesmo deflagrando e financiando a greve, será sempre tido como inimigo das greves. Mas, das serpentes só podemos mesmo esperar a crítica rastejante que, traz embutida o veneno da maledicência de efeito letal para o pensamento crítico. 
Por que defendemos o recuo tático para o estado de greve? Arrolamos a seguir alguns motivos que nos parecem suficientes para justificar a proposta.
A questão jurídica se mostra de modo muito mais relevante nesse momento. Alguns nos questionam sobre termos tido todo o cuidado no início do movimento em se prevenir contra as situações que poderiam nos levar à ilegalidade e, mesmo assim, o judiciário desconsiderou esses esforços determinando  sua suspensão, tornando-a na prática ilegal. Se recordarem bem, já dizíamos que aquelas medidas aplicavam-se às situações previsíveis, sendo impossível, prevenir -mo- nos quanto às ações e argumentos falaciosos assacados por um governo que, por conta de sua força política, poderia exercer pressão eficaz sobre o judiciário.  
O fato é que, através de falácias e manobras ardilosas o governo, junto com seus lacaios no judiciário, acabou por nos levar a uma situação de insegurança jurídica.  Por mais revoltante que seja  esse resultado temos de reconhecer que vivemos em um Estado de Direito pelo qual lutamos para que se estabelecesse, em detrimento de um Estado de Exceção que dirigiu os destinos da nação por exatos vinte anos. Encontra-se assentado sobre bases muito sólidas, não havendo nada na realidade que indique uma crise do Estado burguês no Brasil, de modo a nos permitir assumir atitude aberta de desobediência civil diante de uma decisão judicial. Podemos e devemos questionar a legitimidade da lei antigreve, mas seria no mínimo voluntarista de nossa parte pensar que nessas condições iremos dobrar, agora não apenas o Governo estadual, mas o próprio arcabouço jurídico nacional e seu bastião conservador no STF.  Já diziam os romanos, Dura Lex, Sed Lex; a lei é dura, mas é a lei! Uma das características das greves que pipocaram pelo país afora no último período, foi empreender  tentativas de resistir a essas decisões judiciais. Entretanto, até agora todas malograram nesse intento; então, se é assim, por que insistir nisso? 

Outro fator reside no fato da greve já estar sofrendo fissuras que só  tendem a se alargar. Isso se dá em parte devido às pressões do governo e pais pelo retorno às escolas e também, por conta da intensa propaganda negativa dos opositores contra o sindicato, semeando desconfiança e insegurança. Surte efeito na medida em que se baseiam em querelas históricas no interior do movimento sindical dos trabalhadores em educação do Ceará além de preconceitos arraigados contra os sindicatos em geral. Se com isso pretendiam dar prorrogação à greve, na verdade acaba por gerar efeito contrário, despertando insegurança nos professores ao perderem a já tênue confiança  em quem conduz o movimento.
Lamentavelmente muitos professores e professoras não tiveram paciência para aguardar a decisão da assembleia, e assim podermos promover um recuo organizado.   Não é de se admirar tampouco, em face dos métodos intimidatórios que os raivosos passam a utilizar com mais intensidade à medida em que a greve vai se estiolando. Acusam aos colegas que já não consideram possível a continuidade da greve, e esperamos que não pensem isso da luta, de se deixarem tomar pela covardia. Ora, se existe alguma covardia a ser denunciada, ela está justamente na omissão de quem ao considerar inútil a continuidade da greve, ao menos na forma e no sentido para onde está sendo conduzida, vira as costas para as decisões tomadas coletivamente nas assembleias, por mais equivocadas que sejam. Os companheiros e companheiras têm que entender que o sindicato não representa apenas aos trabalhadores que fazem e até podem gostar de fazer greves, mas a todos os integrantes da categoria, inclusive a qualquer um que seja absolutamente avesso a greves. Seu espaço e seu direito de expressão nas assembleias é sagrado e ninguém tem o direito de questioná-lo. E menos ainda de privar os colegas do direito de ouvir as opiniões dos demais, como fazem calculadamente. Com sua presença podemos ter uma ideia mais fiel da realidade sobre a qual teremos de atuar e poderemos fazer uso das táticas e estratégias adequadas para cada situação. Ao agirem assim espantam os trabalhadores do espaço da assembleia, e nos levarão a tomar decisões necessariamente enganosas que atendem às expectativas de apenas um segmento.
Sendo assim, queremos manifestar nosso repúdio aos métodos de intimidação e ao jogo sujo de mentiras e informações truncadas de quem deseja manter a continuidade da greve por meio de artifícios que servem apenas para desgastar essa preciosa e custosa ferramenta de luta.
É verdade que a princípio os alunos e os pais prestaram total solidariedade á greve. Mas esse é o tipo do apoio que tem limites que vão se estreitando conforme se prorroga o impasse. Apoiam sim, mas na perspectiva de que não seja algo prolongado, e quando acontece, começam a perder a paciência e transferem a pressão no sentido da finalização da greve. . Sabemos que por trás está o governo e sua máquina de propaganda manipulando suas insatisfações.  Temos de ter essa compreensão, para que não percamos definitivamente o apoio desses segmentos e se crie uma nova frente de luta contra quem poderia vir a manter seu apoio se déssemos demonstração de nossa vontade em não prejudicá-los. A proposta de recuo representaria um golpe na greve se ficasse reduzida a isso simplesmente. Seria de fato provocar seu encerramento como nos acusam nossos opositores. Mas ela se dá no contexto das situações acima arroladas, devendo  implicar num plano de lutas específico para essa conjuntura.
Um dos problemas da greve reside na dispersão que muitas vezes tende a ocorrer quando se torna muito prolongada. É certo que as redes sociais atenuaram em muito essa deficiência, mas não temos ainda a estatística que nos dê a medida de seu alcance junto à categoria.
No interior do estado o professor sente mais de perto as pressões, pois vive em estreita relação com os alunos e seus pais, para além dos muros da escola. Devido às relações diretas e pessoais nessas áreas, fica-se mais suscetível às pressões. Nos centros urbanos maiores e na capital ainda há forte resistência, mas não podemos prever até quando.  Muitos colegas diante dessa informação procuram afirmar a resistência como algo positivo apostando em algum fato novo que possa reanimar a greve. Nesse caso, fica-se ao sabor do acaso e das contingências.  Aqui já se pode perceber uma contradição nos defensores da continuidade ostensiva da greve: se é admissível que parte da categoria permaneça em greve, a título de isso representar um ato de resistência por que não poderia demonstrar essa resistência com a manutenção do estado de greve, que deve se seguir ao recuo tático definido pelos professores em assembleia?   Além disso, arrazoemos, quando uma parte decide se manter em greve enquanto outros já  retornaram  às escolas, sem falar nos que já planejam esse retorno, apesar de até votarem pela sua continuidade na assembleia,  teremos apenas uma parte atuando. Ao passo que, decidindo-se pelo recuo para o estado de greve, que é na verdade a proposta, teremos o conjunto homogêneo da categoria nessa posição O retorno à escola nos permitiria a retomada do processo interativo direto entre os professores e alunos. Devemos aproveitar para nos rearticularmos, reforçando a organização no local de trabalho e nos zonais, debatendo os rumos do movimento e a evolução das negociações que devem ser retomadas junto ao governo. É a oportunidade também de se reforçar as finanças do movimento diante da possibilidade de uma possível retomada do enfrentamento direto. Cabe ao sindicato principalmente a tarefa de cimentar essa articulação, mas não somente a ele, que deverá contar com a colaboração dos comandos locais e de um geral, conforme os já existentes agora.
Isso exposto não entendemos quando companheiros insistem em dizer que isso é uma tática derrotista.  Será mesmo!? Não seria derrotista a estratégia copiada de movimentos que já foram derrotados justamente por ir no sentido que apontam os companheiros que defendem a manutenção da greve na forma em que ela está sendo conduzida, batendo de frente com o governo e a justiça?
É fundamental que os companheiros mais radicalizados e empolgados com a continuidade ostensiva da greve, percebam que sem a participação dos colegas que já retornaram e dos demais  que preparam um retorno "à francesa", ou seja, "de fininho", continuarão em um movimento que já se apresenta numa curva declinante, contribuindo para que ao seu final encontre-se  apenas a dispersão.  E essa tem sido historicamente a marca mais negativa de nossas greves.
Olhemos e andemos para frente, lembrando que sempre haverá tempo para modificarmos nosso modo de ver as coisas e de criarmos novas maneiras de agir sobre elas.
Fábio Lopes
Fonte site APEOC

Nenhum comentário: